Vimos anteriormente que todos os cactos são exemplos de plantas suculentas.
Por outro lado, nem todas as suculentas são cactos. Afinal, o que faz com
que uma planta seja considerada suculenta?
Além do espessamento dos tecidos vegetais, causado pelo armazenamento de
água, e a consequente aparência suculenta de folhas, caules e raízes, estas
plantas típicas de ambientes áridos realizam a fotossíntese CAM (Crassulacean Acid Metabolism). Trata-se de um metabolismo diferenciado, que foi inicialmente descoberto
em plantas da família Crassulaceae, que visa atenuar os efeitos
da falta de água sobre as plantas.
Plantas suculentas que habitam regiões de clima árido apresentam este
comportamento evoluído, CAM, no qual os estômatos ficam fechados durante o
dia, a fim de evitar a perda de água por evaporação. Durante a noite, ocorre
a abertura destas estruturas, que então permitem a captação de gás
carbônico. No entanto, neste período, não há luz para a realização de
fotossíntese. O CO2
coletado durante a noite é armazenado sob a forma de ácidos orgânicos.
Durante o dia, quando os estômatos se fecham, estes ácidos liberam o gás
carbônico necessário à fotossíntese.
Para evitar a perda de água, muitas plantas suculentas têm um número
reduzido de estômatos em suas folhas. Outras, mais radicais, apresentam
folhas rudimentares ou ausência total destas estruturas, como acontece com a
maioria dos cactos.
Folhas cilíndricas ou esféricas, mais espessas, são características de
plantas suculentas. Além de armazenarem água, estas estruturas apresentam
uma geometria que diminui a superfície de exposição ao sol, reduzindo a
evaporação da água. Também com esta finalidade, as folhas das suculentas
costumam ser cobertas por cera ou pelos. Um exemplo típico e bastante
extremo de planta peluda é a
Tradescantia sillamontana, popularmente conhecida como suculenta teia de aranha. Também temos a
simpática
suculenta orelha de gato,
Kalanchoe tomentosa, com seu aspecto aveludado característico.
Muitas espécies de plantas suculentas possuem o termo
tomentosa no
nome, referente à lanugem que cobre suas folhas, como é o caso da famosa
suculenta orelha de gato,
Kalanchoe tomentosa, ou da suculenta
patinha de urso,
Cotyledon tomentosa.
Outra planta famosa do gênero
Kalanchoe
é o
aranto, também conhecido como mãe de mil ou
mãe de milhares. Trata-se de uma suculenta polêmica devido às suas alegadas propriedades
medicinais, ainda sem comprovação científica. Ainda neste gênero, temos a
mais florífera espécie,
Kalanchoe blossfeldiana, popularmente conhecida como
flor da fortuna.
Por fim, muitas espécies representantes deste diversificado grupo de plantas
suculentas possui a aparência típica de uma
rosa de pedra. Suas folhas espessas costumam ser organizadas sob a forma de
rosetas, de modo muito similar às pétalas de flores petrificadas.
Vasos e substratos para suculentas
A escolha do melhor vaso para cultivar suculentas passa por uma série de
questões inerentes ao ambiente de cultivo e às preferências de cada
colecionador. Eu, particularmente, costumo manter as plantas que adquiro no
mesmo vaso plástico proveniente do produtor. A suculenta já sofre um grande
stress ao ser retirada das estufas de produção, onde as condições climáticas
são idealmente controladas, para ficar exposta à toda sorte de maus-tratos
no ambiente de comercialização. Depois, ainda é transferida ao nosso
ambiente doméstico, que também é diferente da estufa. Particularmente, acho
que um transplante nesta etapa só piora a situação da planta.
Para esconder a feiura do vaso plástico, podemos sempre recorrer a
cachepots decorativos. Lembrando que é importante retirar o vaso de
dentro destas peças, para que a água da rega não se acumule no fundo. O
material plástico também facilita o desenvase, durante os replantes
necessários quando a planta se torna grande demais. Outra vantagem é que o
peso é menor, em relação aos vasos de barro. Para quem tem grandes coleções,
principalmente em apartamentos, o peso somado de todos os vasos é uma
questão a ser considerada.
Por fim, vale lembrar que os vasos de plástico retêm a umidade por mais
tempo, em relação aos vasos de cerâmica. Dependendo do ambiente em que ficam
as suculentas, é preciso adequar a frequência de regas, levando-se em
consideração a natureza do material com o qual o vaso é fabricado.
Independentemente desta questão, o importante é que o vaso possua uma boa
drenagem, que impeça o acúmulo de água no substrato.
Substrato este que pode ser composto por diferentes materiais. O importante
é que seja bem aerado, não compactado, bastante drenável. A mistura mais
comumente utilizada no cultivo de suculentas é a de terra vegetal e areia
grossa, em partes iguais. Mas há quem adicione esterco curtido, húmus de
minhoca e outros elementos orgânicos à mistura. É importante lembrar que
plantas suculentas são originárias de regiões desérticas, de solo arenoso,
geralmente pobre em nutrientes. Não é necessário utilizar um substrato muito
rico em matéria orgânica, nem utilizar materiais argilosos, ou que retenham
muita umidade. Uma solução segura para quem está iniciando é comprar
substratos prontos, especialmente desenvolvidos para o cultivo de cactos e
suculentas.
Além da mistura clássica de terra e areia, há quem utilize casca de pinus,
carvão vegetal, fibra de coco, perlita, e até mesmo musgo
sphagnum. É
sempre bom lembrar que, neste caso do musgo, a retenção de água é enorme e
as regas devem ser feitas com muita cautela. O importante é encontrar uma
composição em proporções que apresentem uma boa performance no ambiente de
cultivo de cada colecionador, levando-se em consideração seu estilo de vida
e hábitos de rega.
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Suculentas no Apê
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Frequência de regas
Nesta questão de quão frequentemente regar as plantas suculentas, não há uma
regra fixa. Não podemos nos prender a uma frequência semanal ou quinzenal. O
importante é sempre verificar, com o dedo, o nível de umidade do solo. Ele
só deve receber água novamente quando estiver completamente seco. Outra
maneira bastante prática de se perceber que o material no interior de um
vaso secou bem é aferindo seu peso. Quanto mais leve estiver, mais seco o
substrato estará. O vaso de plástico, por ser bem leve, ajuda nesta
verificação. Com o tempo, vamos nos acostumando a distinguir o peso de um
vaso recém-regado, comparado ao de um completamente seco.
Por este motivo, eu particularmente evito colocar aqueles pedriscos brancos
decorativos, na superfície dos meus vasos. Eles me atrapalham na verificação
da umidade do solo. Frequentemente, percebo quando uma suculenta precisa ser
regada apenas pela aparência da terra, que se torna mais clara e
esbranquiçada, aspecto bem distinto de um solo úmido.
Durante as regas rotineiras, no dia a dia, eu evito molhar as folhas e
rosetas das suculentas, para que não haja acúmulo de água e consequente
apodrecimento nos interstícios destas plantas, geralmente bem compactas. No
entanto, uma vez por semana ou a cada quinze dias, principalmente durante os
meses mais quentes do ano, eu costumo levar todas para a banheira e dar uma
boa chuveirada. O importante é deixar as suculentas secarem bem, depois do
banho. Este procedimento evita o acúmulo de sujeira e, eventualmente, pragas
nas folhas das plantas.
Luminosidade para suculentas
Alguns iniciantes têm a impressão de que só é possível cultivar suculentas e
cactos sob pleno sol. Isso não é verdade. Muitos gêneros e espécies de
suculentas adaptam-se ao cultivo em interiores, desde que próximos a janelas
bem iluminadas.
Neste caso, é importante saber quantas horas de sol cada janela recebe, bem
como sua orientação. As janelas e varandas com face norte são as mais
iluminadas e propícias ao cultivo de cactos e suculentas. Aquelas voltadas a
leste recebem o sol da manhã, que também é ótimo. Janelas face oeste tendem
a ser muito quentes, podendo provocar queimaduras em suculentas mais
sensíveis. Já as aberturas voltadas ao sul precisam abrigar plantas que
necessitem de menos luz para seu desenvolvimento.
Nem todas as suculentas são iguais, no quesito luminosidade. Existem gêneros
mais propícios a serem cultivados em ambientes internos, de
meia sombra. Também existem aquelas que são mais resistentes ao sol direto. Antes de
montar sua coleção, o importante é avaliar o quanto de luz seu ambiente
recebe. Depois desta verificação, basta fazer uma pesquisa e adquirir as
suculentas que melhor se adaptam às condições que podemos oferecer.
Além disso, muitos gêneros de plantas suculentas adaptam-se tanto ao cultivo
sob sol pleno como à meia sombra. O curioso é que sua morfologia e coloração
mudam completamente, dependendo do nível de luminosidade ao qual são
expostos. Nestes casos, o importante é fazer a transição gradualmente, de um
ambiente para outro.
Suculentas de sombra
Como a grande maioria das suculentas e cactos adora sol, vamos destacar aqui
aqueles gêneros que podem sobreviver com menos luz. É o caso das espécies
dos gêneros
Haworthia e
Haworthiopsis. Já apresentamos aqui no
blog a
Haworthia limifolia,
Haworthia retusa e
Haworthia coarctata, três excelentes exemplos de suculentas que não necessitam de sol direto
para seu desenvolvimento. São plantas que, em seu habitat de origem, vivem
em locais mais sombreados, entre pedras, e até mesmo parcialmente
enterradas. Portanto, são ideais para o cultivo em interiores.
A famosa
planta jade,
Crassula ovata, e seus mutantes, como a
orelha de Shrek, são exemplos de suculentas que podem ser cultivadas tanto dentro como
fora de casa. Embora possam ficar enormes e florescer sob sol pleno, são
plantas que se dão bem em interiores, desde que recebam uma boa luminosidade
indireta. A suculenta
Portulacaria afra
também encaixa-se nesta categoria.
Todos os representantes do gênero
Sansevieria, popularmente conhecidos como espadas de São Jorge, são excelentes opções
para quem dispõe de pouca luminosidade em seu ambiente de cultivo.
Outros exemplos de suculentas que podem ser cultivadas à meia sobra são as
representantes dos gêneros
Gasteria e
Rhipsalis. Embora precise de bastante luminosidade para florescer, a popular
flor de maio,
Schlumbergera truncata, é outra suculenta que costuma ser cultivada em interiores com sucesso.
Uma seleção das minhas top dez suculentas de sombra pode ser conferida neste
artigo.
Propagação de Suculentas
Plantas suculentas podem ser multiplicadas com grande facilidade e rapidez.
Qualquer folha que é destacada da planta mãe pode gerar uma nova muda. Basta
que os segmentos sejam removidos corretamente, antes que comecem a murchar
ou secar, e que sejam colocados em um
berçário de suculentas. Além disso, o processo de
poda drástica, popularmente conhecida como
decapitação, pode gerar uma grande quantidade de novas plantas. Para conhecer mais
sobre estes processos, basta clicar nos links para os respectivos
artigos.
Já o processo de propagação através de
sementes
é mais difícil e demorado. Existem algumas empresas que comercializam
sementes de cactos variados. Sementes de suculentas são mais difíceis de
serem encontradas comercialmente. Embora a germinação ocorra com relativa
facilidade, é complicado obter indivíduos adultos a partir de sementes, já
que muitos morrem no caminho. Também é preciso ficar atento para anúncios
fraudulentos de sementes, principalmente de plantas suculentas alegadamente
raras.
Suculentas tóxicas
Apesar de as plantas suculentas esbanjarem beleza e fofura, há alguns
cuidados a serem tomados. O perigo mais evidente são os espinhos. Não
somente os cactos, mas também várias eufórbias costumam apresentar espinhos
agressivos, que podem ferir crianças e animais domésticos.
Além disso, as plantas suculentas podem exsudar um líquido leitoso, quando
cortadas. O caso mais típico é o das representantes da família
Euphorbiaceae, como a coroa de Cristo. Esta seiva branca é tóxica se
ingerida acidentalmente. Além disso, o simples contato desta substância com
a pele pode causar irritações e alergias. Ainda mais perigoso é o contato
inadvertido com os olhos e mucosas.
Menos evidentes, mas igualmente perigosas, são as suculentas do gênero
Kalanchoe. A planta
mãe de milhares ou mãe de mil, popularmente conhecida como
aranto, é uma suculenta famosa por causar envenenamento em animais domésticos e
até em gado. É importante tomar cuidado com esta suculenta porque muitos
atribuem a ela diversas propriedades medicinais. Contudo, experimentos
científicos ainda não comprovaram estas alegações.
Outro exemplo clássico de suculenta tóxica é a espada de São Jorge. Vários
membros do gênero
Sansevieria podem causar intoxicação em crianças e
animais domésticos, se ingeridos acidentalmente. A famosa
planta jade,
Crassula ovata, é outra suculenta bastante comum na decoração de
ambientes, que pode causar acidentes, graças à toxicidade de seus tecidos
vegetais.
Há vários outros exemplos. De maneira geral, plantas ornamentais e
suculentas devem ser protegidas do contato com crianças e animais
domésticos. É importante fazer uma boa pesquisa antes de adquirir novas
plantas, sempre tendo em vista os perigos potenciais para nossos entes
queridos. As suculentas são particularmente perigosas para crianças porque
são fofas e suas folhas gorduchas destacam-se com facilidade, sendo um
atrativo irresistível para ser colocada na boca. Todo cuidado é pouco.
Considerações Finais
Finalizo com uma consideração que é bastante pessoal. Vejo as suculentas
como plantas extremamente democráticas. Talvez por isso, estejam tão em alta
atualmente. Além de belíssimas e decorativas, são relativamente baratas,
podendo ser encontradas em qualquer lugar. Como se não bastasse, são plantas
de fácil cultivo e ideais para quem mora em apartamento. Não é necessário
fazer um curso ou ler uma enciclopédia para aprender a cuidar de suculentas.
Qualquer pessoa que adquira uma pequena planta logo conhecerá os principais
cuidados a serem tomados, sem muita frescura ou enrolação.
O único problema destas plantas suculentas é que não é possível parar em
uma, duas ou meia dúzia. Sem que percebamos, logo estaremos contaminados
pelo vírus e não sossegaremos enquanto não preenchermos cada espaço
disponível com uma incrível coleção de plantas gorduchas.