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| Orquídea azul colorida artificialmente | |
Comprei sementes de
orquídeas, como faço para plantar? Minha orquídea está florida, posso adubar? Existe
orquídea azul? Estas são algumas das perguntas que recebo com frequência
aqui no blog, em relação ao
cultivo de orquídeas. Em alguns casos, são apenas curiosidades. Em outros, são dúvidas cujos
esclarecimentos poderiam evitar perdas financeiras. Portanto, resolvi
compilar aqui as informações para que todos possam consultar.
1. Venda de sementes de orquídeas
Além de mito, este é um alerta de utilidade pública, que deveria ser levado ao
conhecimento do maior número possível de pessoas. Existem indivíduos vendendo
sementes de orquídeas através de anúncios na internet. O curioso é que, na
descrição do produto anunciado, o vendedor coloca a quantidade de sementes à
venda. Por exemplo, 20 sementes de orquídea cara de macaco.
É simplesmente impossível vender um número delimitado de sementes de
orquídeas, uma vez que estas são estruturas microscópicas. Existem milhões
delas em uma única cápsula, sendo que sua aparência é de um pó de granulação
extremamente fina. Há pessoas vendendo sementes, alegadamente de orquídeas,
que são do tamanho de um caroço de azeitona.
Além disso, nenhum orquidófilo venderia sementes de orquídeas, justamente
por saber que sua germinação é um processo bastante complicado, geralmente
efetuado por profissionais capacitados, em laboratórios. Existem métodos de
germinação caseira, mas requerem conhecimento e treinamento. Obviamente, as
sementes germinam na natureza, mas as taxas de sucesso são extremamente
baixas e ocorrem sob condições simbióticas muito específicas.
Por fim, 'orquídea cara de macaco' é uma terminologia extremamente popular,
informal, que não seria utilizada por um profissional sério da área. Há quem
venda sementes de
orquídeas negras, azuis, e por aí vai. São anúncios fraudulentos.
2. Denphal vem do cruzamento de Dendrobium com Phalaenopsis
Do ponto de vista biológico, considerando-se a genética destas duas orquídeas, não é possível cruzar um Dendrobium com uma Phalaenopsis. São gêneros muito diferentes entre si, distantes evolutivamente, e incapazes de gerar descendentes viáveis.
Os termos Denphal ou Denphalen referem-se a apelidos populares de híbridos do gênero Dendrobium, cujas flores e hastes florais assemelham-se àquelas encontradas na orquídea Phalaenopsis. Deste fato surge a confusão. Mas trata-se apenas de uma coincidência, não há parentesco efetivo entre estas duas orquídeas.
3. Orquídeas são parasitas
Este é um mito antigo, mas que ainda confunde muitas pessoas. Na natureza, existem vários tipos de interação entre os seres vivos, cada qual com sua peculiaridade. Na eco relação denominada parasitismo, uma espécie tira proveito de outra, geralmente causando-lhe algum dano.
No caso das orquídeas e seus hospedeiros, as árvores, esta dinâmica não se estabelece. As orquídeas apenas apoiam suas raízes sobre os troncos e galhos, sem retirar nutrientes ou prejudicar o desenvolvimento dos mesmos. Embora obtenham vários benefícios de sua interação com as árvores, tais como suporte, luminosidade e proteção por estarem em um local mais elevado, abrigo contra os raios solares diretos, nutrientes provenientes dos dejetos de aves, insetos e da decomposição das folhas, as orquídeas não são consideradas parasitas por não oferecerem prejuízo à saúde das plantas sobre as quais se instalam. Por outro lado, também não trazem nenhum benefício óbvio e, por este motivo, a relação não é simbiótica.
4. Orquídeas são plantas tropicais
Embora a maioria das espécies de orquídeas ocorra nas regiões localizadas entre os trópicos, o fato é que esta família está espalhada por todo o globo terrestre. Há várias orquídeas típicas de climas subtropicais e temperados, por exemplo. A primeira orquídea descrita, na Grécia Antiga, que deu nome a toda a família, pertence ao gênero Orchis, ocorrendo em diversos países ao longo do Mediterrâneo. As orquídeas apenas não estão presentes nas regiões glaciais.
5. Existe orquídea negra
Infelizmente, o pigmento verdadeiramente negro não é produzido por nenhuma flor que conhecemos. Sendo assim, não existem orquídeas negras, da mesma forma que não existem rosas ou tulipas negras, por mais que ocupem o imaginário popular e as obras de ficção. Além, é claro, de serem presença constante nos anúncios de vendedores inescrupulosos.
O fato é que existem algumas plantas que, devido à sua coloração extremamente escura, são popularmente chamadas de orquídeas negras. Mas, na realidade, apresentam uma combinação de pigmentos nos tons de vinho, púrpura ou chocolate, bastante fechados, que dão à flor a aparência de ser negra.
Uma das espécies naturalmente conhecidas como orquídea negra é a brasileira Maxillaria schunkeana, típica das matas do Espírito Santo. Observando-a atentamente, suas pétalas e sépalas são da cor do pinhão, bem escuras, que de fato lembram uma flor negra. São belíssimas, apesar de minúsculas. Outra orquídea negra impressionante foi criada pelo homem, através de cruzamentos selecionados e muitos anos de estudo. Trata-se da Fredclarkeara After Dark. Há vários clones desta orquídea híbrida, com variadas intensidades de vinho, pinhão, chocolate, que aproximam-se bastante do negro absoluto. Outros cruzamentos nesta linha têm chegado ao mercado, mas ainda trata-se de uma planta bastante rara.
6. Existe orquídea azul
Da mesma forma, existem algumas orquídeas cuja coloração chega bastante
próxima à cor azul. Exemplos são as
Vandas
e o Dendrobium victoria-reginae. Mas, assim como o negro, o pigmento
verdadeiramente azul não é produzido pelas orquídeas, sendo bastante raro no
reino vegetal. O que temos, via de regra, são tons de púrpura que, em alguns
casos, dão à flor uma aparência meio azulada.
Para burlar esta deficiência, foram desenvolvidos corantes orgânicos capazes de colorir artificialmente as flores de orquídeas, principalmente Phalaenopsis. A planta original, no entanto, é branca, e voltará a florescer como tal, tão logo tenha a oportunidade.
Embora estejam no mercado há bastante tempo, ainda hoje, as orquídeas azuis coloridas artificialmente frustram alguns consumidores desavisados. Para complicar a situação, existe uma ampla variedade de orquídeas tingidas chegando ao mercado, nas mais diferentes e aberrantes cores.
Para burlar esta deficiência, foram desenvolvidos corantes orgânicos capazes de colorir artificialmente as flores de orquídeas, principalmente Phalaenopsis. A planta original, no entanto, é branca, e voltará a florescer como tal, tão logo tenha a oportunidade.
Embora estejam no mercado há bastante tempo, ainda hoje, as orquídeas azuis coloridas artificialmente frustram alguns consumidores desavisados. Para complicar a situação, existe uma ampla variedade de orquídeas tingidas chegando ao mercado, nas mais diferentes e aberrantes cores.
7. Existe orquídea carnívora
A orquídea carnívora é outro ser folclórico que, volta e meia, faz sua
aparição em algum lugar da internet, principalmente em classificados de vendas
de plantas. Esta confusão costuma surgir devido à popular orquídea sapatinho.
São plantas dos gêneros Paphiopedilum
e
Phragmipedium, conhecidas por suas flores com pequenas bolsas em forma de saco, que
lembram tamancos. São, na verdade, pétalas modificadas que lembram as
estruturas em jarro de algumas plantas carnívoras, do gênero Nepenthes.
Algumas orquídeas, de fato, são capazes de atrair e capturar insetos
polinizadores, mas não se nutrem destes seres vivos. Portanto, não existe esta
história de orquídea carnívora.
8. É proibido adubar orquídea com flor
Na natureza, as orquídeas continuam a receber todo o tipo de nutrientes, estando floridas ou não. Inexiste esta distinção de fornecimento de adubo de acordo com o ciclo de vida da planta. No cultivo comercial ou caseiro, a adubação pode ser suspensa na época de floração porque a orquídea já produziu todos os elementos necessários para garantir a sua perpetuação. Portanto, quando estão floridas ou em dormência, o consumo de nutrientes é bastante reduzido.
Fica, portanto, a critério do cultivador manter ou não a adubação durante o período em que a orquídea está florida. Eu, particularmente, sigo adubando todas, sem distinção, já que cada uma encontra-se em uma fase específica do seu ciclo de vida. Apenas é importante tomar o cuidado de não borrifar adubo diretamente sobre as flores ou botões florais, para não estragá-los.
9. Faz bem regar orquídea com gelo
Esta é uma dúvida que muitos têm em relação à rega de suas orquídeas. Este mito é derivado de um outro, o mito de que orquídea não gosta de muita água. Portanto, surgiu esta recomendação de regar com pedras de gelo ou copinhos de café, de modo a fornecer menos água. Estes métodos não são eficazes, pois a quantidade de água é muito pequena e perpassa o substrato, através de canais, sem molhá-lo efetivamente.
A única utilidade de se regar orquídeas com gelo ou água gelada está na
tentativa de fazer o
Cymbidium
florescer. Como trata-se de uma orquídea de clima frio, que necessita de uma
queda brusca de temperatura no outono, alguns cultivadores de regiões mais
quentes valem-se deste recurso para tentar induzir a floração.
10. Vitamina B1 é enraizador
Existe uma crença bastante difundida no meio orquidófilo de que a vitamina B1 ou tiamina é um bom enraizador de orquídeas.
Diferentemente de nós, animais, as plantas são seres capazes de fabricar todas
as substâncias das quais necessitam a partir de elementos simples encontrados
no meio ambiente, como água, luz e sais minerais. A hidroponia é uma
demonstração prática deste milagre. Portanto, via de regra, não é necessário
fornecer nenhuma vitamina ou hormônio para que a planta cresça saudável.
Excepcionalmente, em casos de plantas debilitadas e valiosas, é melhor investir em um hormônio vegetal com propriedades enraizadoras, de uma fonte confiável, do que gastar tempo e dinheiro com produtos de eficácia não comprovada cientificamente.
Publicado em: | Última atualização:

Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
