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Orquídea Azul


Orquídea Phalaenopsis azul
| Orquídea azul |

Quando esta exótica orquídea azul, batizada de Phalaenopsis Blue Mystique, chegou ao mercado americano, em meados de 2011, houve um grande alvoroço entre o público consumidor. A cor azul vibrante, elétrica, era diferente de tudo o que se conhecia, até então. Afinal, flores azuis são extremamente raras. Existem na natureza algumas orquídeas que parecem cerúleas, mas possuem, na realidade, um pigmento púrpura. É o caso das representantes do gênero Vanda. Embora exista uma espécie bastante azulada, a Vanda coerulea, esta não é capaz de produzir o pigmento verdadeiramente azul. De modo geral, a cor azul é rara na natureza.

No caso desta orquídea azul, a Phalaenopsis da foto de abertura deste artigo, não há a menor dúvida quanto à sua coloração. Mas será verdadeiramente natural? Apesar do preço de lançamento um pouco salgado (40 a 50 dólares), a procura pela Phalaenopsis Blue Mystique foi maciça, graças à curiosidade do público e ao ineditismo da vibrante cor azul, inexistente entre as orquídeas. Ainda hoje, recebo muitas questões de leitores querendo saber se esta orquídea azul é natural ou artificial.


A orquídea azul Phalaenopsis Blue Mystique, ao contrário do que muitos pensam, não veio pronta da Holanda. Ela foi desenvolvida por uma empresa americana sediada na Flórida, a Silver Vase Nursery, a primeira a apresentar a orquídea Phalaenopsis azul ao mercado. Apesar de produzir orquídeas desde 1988, este orquidário veio a se tornar famoso em todo o continente americano ao lançar sua orquídea azul. Com a fama, vieram duras críticas de orquidófilos mais puristas.

De fato, se pararmos para pensar, com mais de 35.000 espécies naturais de orquídeas distribuídas por todo o globo terrestre, mais um infinito e crescente número de orquídeas híbridas, produzidas comercialmente pelo homem, torna-se difícil encontrar justificativa para a criação de uma orquídea azul colorida artificialmente.

Orquídea Phalaenopsis azul
Orquídea azul

O segredo da orquídea azul


Todos nós, quando crianças, já realizamos a clássica experiência de colorir rosas brancas, colocando as hastes cortadas dentro de copos de água com corante. A rosa torna-se colorida porque, apesar de ter sido cortada, continua a absorver água através dos seus vasos condutores (xilema). Ainda hoje, é comum encontrarmos no mercado flores de corte coloridas artificialmente, através desta técnica. Recentemente, as rosas multicoloridas, também conhecidas como rosas arco-íris, fizeram sucesso nas feiras e exposições de flores.

A orquídea azul é fruto de um aprimoramento desta técnica. Neste caso, o desafio consiste no fato de não se tratar de uma haste floral cortada. Após anos de pesquisa, os produtores conseguiram desenvolver um pigmento que não é tóxico à orquídea. Sua composição é mantida em sigilo. Todo o processo é patenteado e a fórmula do corante é desconhecida. Os pigmentos são orgânicos e importados da Holanda.


A técnica para obtenção da orquídea azul é complicada porque torna-se necessário atingir, com uma agulha, especificamente o xilema da haste floral, sem danificar os demais tecidos, já que a planta continua viva e desenvolvendo-se normalmente. Esta agulha, similar à de uma seringa, é acoplada a uma pequena cânula, um compartimento que funciona como reservatório do corante orgânico. Para que os botões florais da orquídea, originalmente branca, desabrochem azuis, a planta precisa sofrer esta intervenção em condições bem controladas, para evitar contaminações. Além disso, procedimentos drásticos podem fazer com que a orquídea aborte a floração. Todo o processo encontra-se patenteado e seus detalhes são desconhecidos.

Já presenciei a tentativa de obtenção de orquídeas azuis através desta técnica, mas executada de forma amadora. Os resultados são desastrosos. Ao que parece, é difícil controlar o fluxo de corante através dos tecidos vasculares da orquídea. Desta forma, frequentemente, as flores ficam completamente borradas de tanta tinta. Além disso, a coloração final é bem diferente das orquídeas azuis produzidas de forma profissional.

Orquídea Phalaenopsis azul
Orquídea azul

O efeito desejável e obtido pelos produtores que comercializam a Phalaenopsis Blue Mystique é este dégradé do azul suave em direção ao quase branco das extremidades de cada flor. Todas as estruturas das pétalas e sépalas desta orquídea azul acabam evidenciadas pelo corante, revelando-se através dos veios coloridos.

É curioso notar que, frequentemente, compramos orquídeas azuis com alguns botões florais. Embora as flores já abertas exibam um tom vibrante, bem azulado, os botões acabam gerando flores em um azul mais claro. Isto se deve à ausência do corante. Por outro lado, já vi casos em que o consumidor acabou levando para casa uma orquídea azul ainda com a cânula de tinta espetada na haste floral. Neste caso, o efeito do tingimento é mais duradouro.

O que acontece depois?


A surpresa desagradável é que, depois que as flores caem, nunca mais voltam a ser azuis. Devido a um efeito residual do corante, as próximas florações podem vir em um tom mais pálido, até tornarem-se completamente brancas, cor original da flor.

No início, este pequeno detalhe causou a frustração e indignação dos consumidores, que imaginavam estar levando para casa uma orquídea que seria azul para sempre. Hoje, as empresas que comercializam esta planta têm o cuidado de anexar um folheto explicativo, salientando que a orquídea é branca e sofre um processo de coloração artificial. Ainda assim, observo frequentemente consumidores reclamando do fato de que sua orquídea azul refloresceu branca. Nem todos estão sendo avisados deste detalhe.


Já vi inúmeras orquídeas Phalaenopsis azuis sendo vendidas nos mais diferentes lugares e constatei que a imensa maioria não traz este folheto explicativo. Os vendedores também não fazem ideia de que se trata de uma flor colorida artificialmente. Esta falta de informação é a principal responsável pelo descrédito do público consumidor.

O ideal é que todas as pessoas que adquiram uma orquídea azul saibam que se trata de uma coloração artificial, resultante de um processo de tingimento, e que a planta não é prejudicada. Após o fenecimento das flores azuis, novas hastes florais serão produzidas, desta vez apresentando a cor branca original. Tomado este cuidado, não vejo problema algum no tingimento, que acaba sendo uma maquiagem temporária, sem causar maiores danos à planta.

Orquídea Phalaenopsis Azul
Orquídea azul

Orquídeas de outras cores


Além da Phalaenopsis Blue Mystique, existem também à venda as variedades Lila Mystique (lilás) e Indigo Mystique (roxa). As duas primeiras são orquídeas brancas tingidas com corantes de tonalidades diferentes. A Indio Mystique é uma orquídea originalmente púrpura, que é artificialmente colorida de modo a atingir uma tonalidade de azul índigo.

A cada dia surgem novidades no mercado com relação às orquídeas coloridas artificialmente. A orquídea azul continua a ser a mais popular, mas podem ser encontradas orquídeas alaranjadas, esverdeadas e até mesmo rosadas, em um tom que não se encontra na natureza.

Como, teoricamente, é possível produzir orquídeas de qualquer cor, graças a este tecnologia de tingimento in vivo, é importante que os produtores e comerciantes sinalizem este fato ao público consumidor. Chega um momento em que eu mesmo fico na dúvida se a cor é natural ou não. Não é ético vender flores coloridas artificialmente sem que o comprador saiba deste fato.

Hoje já é possível encontrar outras orquídeas azuis coloridas artificialmente, não apenas Phalaenopsis, a pioneira. Nos Estados Unidos, é comum vermos orquídeas Dendrobium, do tipo Denphal, em diversas tonalidades de azul. Outra vítima recente do procedimento é a orquídea Cymbidium. As possibilidades são virtualmente infinitas.


Onde encontrar a orquídea azul


Atualmente, estas orquídeas azuis são produzidas no Brasil, em Holambra. Sua distribuição é bastante eficaz, sendo que podemos encontrá-las em floriculturas, garden centers e até supermercados. Caso decida levá-la para casa, certifique-se de que a planta é de procedência conhecida e possui o folheto explicativo. Nunca é demais ressaltar que trata-se de uma maquiagem temporária. Na floração seguinte, a magia se acaba e a orquídea azul volta a ser branca.

Aqui no Brasil, a orquídea azul é predominantemente uma Phalaenopsis Blue Mystique. O preço desta orquídea costuma ser bem elevado, muito acima da média das Phalaenopsis naturais de outras cores. De modo geral, são plantas vendidas em floriculturas, com cachepots, fitas e laços, para presentear. Neste caso, o valor pode ser exorbitante. Nos garden centers, é possível achar orquídeas azuis por preços um pouco mais baixos.

Nunca é demais ressaltar que esta orquídea azul jamais será encontrada nas diversas exposições de orquídeas que ocorrem durante o ano todo, em todo o país. Nestes eventos, costumam estar presentes os orquidófilos mais puristas, que consideram uma aberração tingir orquídeas.

Orquídea Phalaenopsis azul
Orquídea azul

Como cuidar da orquídea azul


Como esta é uma orquídea de floricultura, que costuma vir envolta em celofane, fitas e cachepot, meu conselho é que todo este material seja retirado, tão logo seja possível. O importante é que o vaso tenha ventilação e não fique abafado. Já vi casos de orquídeas que morreram afogadas porque o dono se esqueceu de retirá-las do cachepot. Com o acúmulo das regas, que não tinham vazão, deu-se a tragédia.

Apesar da aparência artificial e meramente decorativa, a orquídea Phalaenopsis azul é uma planta viva, que demanda alguns cuidados básicos para que não morra e continue a florescer por vários anos.

Enquanto a floração durar, a orquídea azul pode ficar dentro de casa, em um local que receba luminosidade e alguma ventilação. A rega somente deve ser feita quando o material dentro do vaso, o substrato, secar completamente. É importante evitar manter o pratinho com água acumulada sob o vaso. Nesta fase, não é necessário adubar a orquídea.

Após o término da floração, existe a possibilidade de a haste floral antiga dar novas flores. Alguns cultivadores preferem cortar a haste completamente, a partir da base, para que a orquídea tenha tempo de descansar para uma nova floração. Todos os detalhes para tomada desta decisão encontram-se neste artigo:


De qualquer forma, o importante é que a orquídea seja transferida para um local com mais luminosidade, após o término da floração. Ela não pode receber sol direto, apenas luz filtrada. Este é um fator primordial para que novas flores surjam, na época apropriada. Além disso, uma adubação correta, de manutenção e floração, deve começar a ser aplicada, assim que novas raízes e folhas começarem a se desenvolver. Tomados estes cuidados, novas flores, desta vez brancas, surgirão a cada ano. Devido à natureza híbrida da maioria das orquídeas Phalaenopsis disponíveis no mercado, elas podem florescer em todas as estações, mais de uma vez por ano.

Mais informações sobre o cultivo de orquídeas, com foco em plantas mantidas no interior de casas e apartamentos, podem ser encontradas neste artigo:


Considerações finais


Na minha opinião, estas orquídeas azuis são muito bonitas, mas transmitem algo de bastante artificial. Além disso, ainda acho muito caro pagar estes valores consideráveis por uma orquídea branca comum. Como o processo de tingimento não é trivial, sendo patenteado, e a fórmula do corante orgânico é mantida em sigilo, o preço embute esta exclusividade, sobrando para o consumidor final.

Para os que ficaram frustrados ao saber que a orquídea azul é artificial, uma novidade interessante. Pesquisadores da Universidade de Chiba, no Japão, desenvolveram a primeira e legítima Phalaenopsis azul, através de técnicas de engenharia genética. O que não deixa de caracterizá-la como artificial. Mas, ao menos, esta produzirá flores azuis até o final da vida.


Os cientistas isolaram os genes responsáveis pela produção do pigmento azul de uma planta, uma antocianina, e os introduziram em uma orquídea Phalaenopsis. O resultado é uma orquídea azul verdadeira, ainda que apresente uma coloração mais pálida em relação à colorida artificialmente. Por enquanto, trata-se de uma planta experimental, que vai demorar a se tornar disponível comercialmente.

Orquídeas e flores azuis são raras na natureza porque esta cor não costuma atrair polinizadores, além de ser mais sensível à luminosidade. Por esta mesma razão, são raros os alimentos azuis. A maioria dos animais não considera esta cor muito palatável, geralmente associando-a a alimentos deteriorados ou fungados. Por outro lado, em nossos ambientes modernos e artificiais, é inegável o atrativo decorativo que esta cor exerce. Talvez por este motivo, a orquídea Phalaenopsis azul ainda esteja fazendo tanto sucesso, apesar das críticas ao seu modo de obtenção.

A foto da orquídea azul na abertura deste artigo é de autoria da Marisa Furukawa, que gentilmente permitiu sua utilização para a publicação aqui no blog. Suas fotografias são de excelente bom gosto, sendo que admiro seu trabalho fotográfico há bastante tempo. À Marisa, meu muito obrigado pela valiosa contribuição!

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Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.

São Paulo, SP, Brasil