| Dendrobium loddigesii | |
Uma das coisas que mais me fascinam no
cultivo de orquídeas
é poder acompanhar o desenvolvimento de um pequeno broto, desde as primeiras
raízes até a floração completa. Existem basicamente dois tipos de orquídeas
bebês. Um nasce a partir de
sementes microscópicas
e leva vários anos até atingir a idade adulta. Apesar de ser um processo longo
e complicado, que ocorre espontaneamente na natureza, existem atualmente
técnicas de laboratório capazes de reproduzir este fenômeno em larga escala. É
desta forma, através de sementes germinadas in vitro, que as orquídeas
são produzidas comercialmente em larga escala.
O que é keiki de orquídea
Outro filhote, este mais comumente observado no cultivo doméstico, é o broto que surge a partir de orquídeas adultas. Esta estrutura é frequentemente chamada pelos orquidófilos de keiki (palavra havaiana que significa bebê). Alternativamente, algumas pessoas utilizam o termo keike. No entanto, a grafia original da palavra na língua havaiana é keiki.
Keiki de Dendrobium híbrido |
Como surgem os keikis
Todas as orquídeas possuem pequenas estruturas denominadas gemas. São aqueles
nódulos ao longo da haste da
Phalaenopsis
ou as saliências nos pseudobulbos em forma de cana do Dendrobium.
Cada um destes nozinhos representa um conjunto de 'células tronco'. Dependendo
do estímulo, uma mesma gema pode produzir diferentes estruturas vegetais, tais
como flores ou brotos. Estas células são chamadas de totipotentes.
Algumas condições climáticas e de cultivo determinam a formação de keikis em orquídeas. Infelizmente, nem todos os fatores são completamente compreendidos ou controlados, como veremos a seguir. Em alguns casos, ficamos na expectativa e nunca sabemos se a orquídea produzirá keikis ou novas florações.
No caso das orquídeas do gênero
Dendrobium, muitas espécies precisam de um período de seca no outono/inverno, processo
denominado stress hídrico. Sob estas circunstâncias, a planta entende
que é época de florescer e transforma suas gemas em flores. Por outro lado,
quando continuamos regando estas orquídeas, enviamos um sinal de que não é o
período de floração. Neste caso, a planta produz keikis. É muito
frequente ler relatos de leitores que reclamam do fato se sua orquídea
Dendrobium apenas produzir brotos laterais, nunca flores. De modo geral, este
fenômeno ocorre devido à falta do stress hídrico na época adequada.
As orquídeas do gênero
Phalaenopsis, por sua vez, são mais temperamentais. Todos já viram aquele pequeno broto,
com folhas e raízes, pendurado em uma haste cuja floração já acabou.
Dependendo de fatores que não são completamente compreendidos, algumas gemas
dormentes desta haste podem acordar e produzir uma nova floração ou filhotes.
Os fatores climáticos que vão determinar qual destas estruturas vai ser
produzida ainda não foram determinados. É sempre uma surpresa. Para tentar
contornar esta situação, existe no mercado internacional a
keiki paste, um produto vendido nos EUA, à base de hormônios
vegetais, que promete estimular a formação de novos brotos a partir de gemas
adormecidas. Trata-se de um produto caro, nunca testei para ver se dá bons
resultados. Mas morro de curiosidade.
Os keikis também podem ser a salvação de uma orquídea. Aquelas
plantas com crescimento monopodial, como Phalaenopsis e
Vanda, só podem crescer a partir de um único ponto, para cima. Às vezes, por
excesso de água ou devido a alguma doença ou acidente, este ponto apical por
onde as novas folhas surgem é comprometido. Nestas orquídeas, isto significa
a morte da planta. Felizmente, existe a possibilidade de emitirem um
keiki lateral, a partir da base ou da axila das folhas, de modo a
gerar uma cópia que garantirá a sobrevivência daquela orquídea.
É importante observar que tanto as flores como os keikis asseguram
a perpetuação da espécie. No entanto, os bebês são plantas idênticas à
orquídea mãe, ao passo que as flores podem ser
polinizadas por outros indivíduos, gerando uma variabilidade genética que é fundamental
para o meio ambiente.
Keiki de Epidendrum fulgens |
Como cuidar de um keiki
Uma das perguntas que mais recebo vem de pessoas querendo saber como cuidar
dos keikis de orquídea. O primeiro e mais importante passo é deixar o
keiki sossegado, lá onde está. Enquanto permanecer conectado à
planta mãe, estará recebendo os nutrientes necessários ao seu
desenvolvimento. Sendo assim, não corre o risco de morrer desidratado, em
uma fase delicada do desenvolvimento, onde geralmente as raízes são
incipientes ou inexistentes. É bem verdade que a tentação de destacá-lo e
plantá-lo em um vasinho separado é grande.
No entanto, neste período, o mais importante é aguardar até que o projeto de
orquídea desenvolva raízes em tamanho e número suficientes para garantirem a
sobrevivência da muda após a separação. Não existe uma regra fixa para o
momento certo de destacarmos o keiki da mãe. Alguns preferem
mantê-los no mesmo local, indefinidamente. Quando florescerem, todos juntos,
produzirão um belo espetáculo. Espero que seja o caso do
Dendrobium loddigesii
que ilustra este artigo, orquídea conhecida por produzir
keikis loucamente.
Em algumas situações, como no caso dos brotos nascidos na haste de
Phalaenopsis, não dá para mantê-los lá indefinidamente. Chega um
momento em que a haste seca e é necessário replantar a nova orquídea. Um
cuidado que algumas pessoas recomendam tomar, neste caso, é fornecer
bastante umidade às raízes do keiki. Elas podem ser constantemente
borrifadas, de modo a não ressecarem. Também podem ser envoltas em um
chumaço de musgo sphagnum, medida que ajuda a mantê-las hidratadas
até o momento da separação.
De modo geral, quanto maior, mais desenvolvido, e com o maior número possível de raízes estiver o keiki, melhores serão suas chances de sobrevivência e crescimento após ser desligado da planta mãe.
De modo geral, quanto maior, mais desenvolvido, e com o maior número possível de raízes estiver o keiki, melhores serão suas chances de sobrevivência e crescimento após ser desligado da planta mãe.
Como plantar o keiki
A parte mais crítica e traumática, ao menos para mim, é o momento de
separar o bebê orquídea da mãe. Tenho pavor de causar algum dano ao broto,
às raízes ou à própria genitora. No caso de Dendrobium, em que o
keiki está agarrado ao pseudobulbo, costumo destacá-lo com as
mãos. Puxando e rotacionando o broto, delicadamente, conseguimos separá-lo
sem maiores problemas.
No caso das orquídeas Epidendrum e Phalaenopsis, em que
o broto está pendurado ha haste floral, eu prefiro fazer cortes na haste,
antes e depois do ponto de inserção da muda. Desta forma, não há dano
algum ao keiki e a haste não terá mais função, a esta altura.
Para plantar a nova orquídea, o melhor é tratá-la inicialmente como um
seedling, nome dado às plântulas nascidas de sementes. É preciso
fornecer bastante umidade, sem encharcar o substrato. Eu prefiro usar
musgo sphagnum em vasos de plástico bem pequenos. Nesta fase, o
tamanho do vaso é importante, já que recipientes muito grandes demoram
mais a secar, gerando o risco de causarem o apodrecimento das raízes do
keiki.
Inicialmente, é bom manter a muda em local mais sombreado, até que as raízes se desenvolvam e o keiki fique mais forte. Um bom enraizador ajuda bastante nesta etapa de aclimatação. A adubação pode começar a ser feita algumas semanas após o plantio, preferencialmente uma fórmula de crescimento, mais rica em nitrogênio, recomendada para mudas jovens.
Inicialmente, é bom manter a muda em local mais sombreado, até que as raízes se desenvolvam e o keiki fique mais forte. Um bom enraizador ajuda bastante nesta etapa de aclimatação. A adubação pode começar a ser feita algumas semanas após o plantio, preferencialmente uma fórmula de crescimento, mais rica em nitrogênio, recomendada para mudas jovens.
Se tudo correr bem, em apenas um ou dois anos a orquídea bebê estará
produzindo suas próprias florações. Neste momento, mais um belo ciclo da
vida se completará.
Publicado em: | Última atualização:
Por Sergio Oyama Junior
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil
Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.
São Paulo, SP, Brasil