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Sementes de Orquídeas: Como Plantar


Formação de uma cápsula de sementes de orquídea
| Formação de uma cápsula de sementes de orquídea |

As sementes de orquídeas deveriam ser colocadas naquela lista de coisas que jamais vemos, juntamente com a cabeça de bacalhau e o filhote de pomba. Afinal, são estruturas microscópicas especialmente projetadas para serem levadas pelo vento, tão logo sejam libertadas de dentro do fruto da orquídea, a cápsula de sementes. Elas em nada se assemelham às clássicas sementes que estamos acostumados a ver. Seu plantio também é completamente diferente. Neste artigo, veremos como é sua aparência e quais os métodos utilizados para plantar orquídeas.

Aproveitando a gravidez inesperada de uma das Orquídeas no Apê, a Sophrocattleya Batemaniana, um belíssimo híbrido da aliança Cattleya, venho relatando as etapas que levam à formação das sementes nestas plantas especiais.

Em resumo, tudo começa com a floração. Embora cultivemos orquídeas para apreciarmos a beleza das flores, são elas as responsáveis pela perpetuação da espécie. É preciso que polinizadores específicos, geralmente insetos, auxiliem neste processo de reprodução sexuada das orquídeas.


Tão logo ocorra a polinização, uma série de fenômenos biológicos é desencadeada. As pétalas e sépalas começam a se fechar, conforme podemos observar na foto de abertura deste artigo. Concomitantemente, o pecíolo da flor começa a se intumescer. São as sementes que iniciam seu desenvolvimento no interior do ovário da orquídea. Este é um acontecimento relativamente raro. Nem todas as flores polinizadas vingarão, produzindo frutos. No caso das orquídeas, estas estruturas costumam ser chamadas de cápsula de sementes. Quanto mais desenvolvidas estão as cápsulas, mais secas e definhadas ficam as flores em suas extremidades.

Cápsula de sementes de orquídea
Cápsula de sementes de orquídea

Voltando ao caso da minha orquídea grávida, hoje, com a cápsula de sementes já formada e completamente madura, vamos dar seguimento ao desenrolar deste interessante processo, respondendo a uma questão que recebo com frequência dos leitores do blog. Muitos observam a formação de uma cápsula de sementes em suas orquídeas, mas não sabem do que se trata. O que fazer com as sementes das orquídeas? Como plantá-las?

Desde pequeno, tenho uma enorme curiosidade em ver sementes germinando. Já plantei de tudo, desde o clássico feijão no algodão, passando pela semente de abacate na água, até o extremo de plantar o alpiste que servia de enchimento a um dos meus bonecos de estimação.


Neste contexto, imaginem a minha decepção ao descobrir que não poderia plantar orquídeas a partir de sementes. Fui informado de que se tratava de um processo complicadíssimo, que apenas laboratórios especializados poderiam realizar. Como sou teimoso, resolvi tentar, mesmo assim.

Após um longo período de gestação, observei que a cápsula de sementes da minha orquídea começou a amarelar. Imaginei que abriria a qualquer momento, por isso a vigiava dia e noite. Com o passar do tempo, a coloração começou a ficar suspeita, um alaranjado que me lembrava coisa morta. 

Cápsula de sementes de uma orquídea
Cápsula de sementes de uma orquídea

Temendo que a cápsula tivesse abortado, decidi colhê-la e abri-la. Para minha surpresa, encontrei o famigerado pó que tanto havia visto durante minhas pesquisas na internet. Fiquei fascinado ao ver como eram pequenas e leves, voando sob qualquer movimento. O material assemelha-se a uma farinha. Foi a primeira vez na vida que vi sementes de orquídeas ao vivo.

A primeira providência a ser tomada é armazenar estas sementes de orquídea de forma adequada. Desde que as sementes estejam bem secas, pode-se retirá-las do interior da cápsula, com cuidado, e armazená-las em um papel toalha ou envelope de papel. Este material deve permanecer bem protegido da umidade, embrulhado em papel filme e armazenado dentro da geladeira. Aqueles pequenos envelopes de plástico, com lacre na extremidade, são ideais para este tipo de armazenamento. Nestas condições, as sementes permanecem viáveis por anos.

Alguns orquidófilos, no entanto, optam por colher as sementes de orquídea com a cápsula ainda verde. Neste caso, a retirada das sementes ocorre já em condições estéreis, quando são transferidas para um meio de cultura onde serão germinadas, in vitro.

Sementes de orquídea
Sementes de orquídea

Antes de prosseguirmos com os métodos para germinar sementes de orquídeas, é importante fazermos um alerta, neste ponto do artigo. Até mesmo como um serviço de utilidade pública, é essencial que o maior número possível de pessoas saiba identificar a aparência destas sementes, gravando na memória esta foto acima.


Isso é importante porque existem muitos comerciantes inidôneos que anunciam e vendem falsas sementes de orquídeas. A internet e as redes sociais estão repletas de anúncios de sementes de orquídeas raras, muitas delas inexistentes, como a orquídea azul. Como se isso não bastasse, os anúncios costumam ofertar 'pacotes' de 10, 20, 50 sementes. Ora, se estas são microscópicas, com a aparência de um pó finamente granulado, como poderiam contá-las e empacotá-las? Já vi e li relatos de pessoas que compraram e receberam em sua casa 10 sementes alienígenas de sabe-se lá o quê. Esta prática, além de enganosa, é perigosa, já que este material biológico costuma vir do exterior e pode abrigar patógenos desconhecidos.

Existe outro forte motivo pelo qual pessoas sérias não vendem sementes de orquídeas ao público em geral. Os métodos utilizados para fazer com que germinem são muito complicados e de resultado incerto. Veremos cada um deles em detalhes, a seguir.

Existem dois mecanismos de germinação das sementes de orquídeas. O simbiótico, que é o que ocorre na natureza, e consiste na associação da semente a fungos que vivem nas raízes das orquídeas adultas. Esta interação permite que a semente germine, desde que as condições ambientais sejam propícias.

Para utilizar este método, basta espalhar as sementes pelo ambiente, preferencialmente próximo às raízes da planta mãe. Muitos o fazem no próprio vaso da orquídea que originou a cápsula, na esperança de que alguns bebês nasçam a partir desta semeadura. Existem ainda alternativas caseiras que tentam otimizar o processo, macerando raízes de plantas adultas, misturando-as com alguns ingredientes ricos em hormônios vegetais, como água de coco, e semeando a mistura em um tronco de árvore. De qualquer forma, a germinação simbiótica é lenta e muito pouco produtiva.


Justamente devido a esta dificuldade de germinação, as orquídeas já produzem milhares de sementes, de modo a aumentar as chances de que algumas vinguem. Mesmo na natureza, em meio a florestas tropicais, poucos exemplares chegarão à vida adulta. Por este motivo, e devido a toda esta dificuldade, é tão importante coibir a coleta de orquídeas da natureza, em seus habitats de origem. Este procedimento, que é ilegal, associado à destruição das árvores que costumam hospedar orquídeas, acaba levando muitas destas plantas à extinção. Falaremos detalhadamente sobre esta questão em outros artigos aqui no blog.

Orquídeas semeadas in vitro
Orquídeas semeadas in vitro

Sendo assim, como plantar orquídeas de uma maneira mais efetiva? Uma alternativa consiste no método assimbiótico, em que dispensamos a presença do fungo e fornecemos todos os nutrientes necessários à germinação das sementes, em um ambiente completamente estéril. Por coincidência, trabalhei durante muitos anos com cultura de células in vitro, ao longo de todo o mestrado e doutorado. Os equipamentos para realizar este tipo de procedimento são caríssimos, tais como capela de fluxo laminar e autoclave, para esterilizar os equipamentos e meios de cultura. Daí a recomendação de que se envie as sementes de orquídeas para laboratórios especializados.

Por outro lado, atualmente, vários orquidófilos e pesquisadores vêm desenvolvendo alternativas caseiras para a germinação in vitro de sementes de orquídeas. Nos EUA, pode-se inclusive comprar todo o material necessário já pronto. Aqui as coisas estão evoluindo nesta direção, mas ainda temos que improvisar bastante. Foi o que fiz, com esta tentativa amadora de semeadura caseira.

Nos frascos da foto acima, centenas de sementes estão dispostas sobre um meio de cultura contendo açúcar, adubo, água de coco e carvão ativado. O material foi solidificado através da adição de ágar ágar. Cada frasco é hermeticamente fechado, sendo que seu interior está completamente esterilizado. Já há disponíveis no mercado algumas formulações de meios de cultura. Basta dissolvê-los em água, adicionar o solidificante, e esterilizar a mistura. Alternativamente, há várias receitas caseiras, contendo um macerado de frutas, que serve como alimento para a germinação e desenvolvimento das sementes de orquídea.


O processo de esterilização é o mais crítico e complicado. Como o meio de cultura é rico em nutrientes, o risco de contaminação é enorme. Todos os ingredientes são ideais para também alimentar fungos e bactérias. O grande desafio é esterilizar tudo sem matar as sementes. Explicando de maneira bem simplificada, há os métodos físicos e químicos de esterilização. Profissionalmente, costuma-se utilizar a autoclave. Na improvisação caseira, o equipamento é substituído por uma panela de pressão. Também há quem utilize o forno de microondas. No caso da esterilização química, são utilizadas misturas de água sanitária, amônia quaternária, entre outros compostos químicos capazes de matar contaminantes e preservar as sementes de orquídeas.

Sementes de orquídeas germinadas in vitro
Sementes de orquídeas germinadas in vitro

Neste artigo, não vou detalhar o método de germinação de sementes de orquídeas que utilizei porque, infelizmente, o procedimento não deu certo. Deixo a imagem acima apenas como referência, mostrando a aparência das sementes germinadas sobre o meio de cultura. No meu caso, passei meses de olho naqueles três frasquinhos e acabei a ver navios. A única notícia positiva é que não houve contaminação, um problema recorrente neste tipo de experimento. Utilizei um método de esterilização química que pode ter matado tudo, inclusive as sementes.


De qualquer forma, foi um aprendizado excepcional. Apenas o fato de ter visto uma cápsula de sementes se formando, a partir de uma flor, já recompensou toda a espera e ansiedade. Deixo este relato como uma motivação para que todos tentem obter sementes de orquídeas e fazê-las germinar. Além disso, com este conhecimento, cada vez menos pessoas comprarão as falsas sementes de orquídeas insistentemente anunciadas por toda a internet.

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Bacharel em biologia pela Unicamp, com mestrado e doutorado em bioquímica pela Usp, escreve sobre o cultivo de orquídeas, suculentas, cactos e outras plantas dentro de casas e apartamentos.

São Paulo, SP, Brasil