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Ananda Apple |
Há quase quinze anos à frente de um quadro semanal na Rede Globo, dedicado
exclusivamente às plantas, a jornalista Ananda Apple é uma incansável
divulgadora deste fascinante mundo verde para um público ainda carente e
sedento de informação. Além disso, Ananda e suas filhas gêmeas, Ceo e Liz,
tiveram o privilégio de emprestar seus nomes a orquídeas que são frutos de
anos de pesquisa. Nesta entrevista inédita, ela compartilha conosco um pouco
do seu programa, suas plantas e seus conhecimentos.
O.A. Como surgiu a oportunidade de falar profissionalmente sobre plantas,
na televisão?
Ananda Apple: Ela não surgiu. Eu surgi com ela... Foi em 1998, o Bom Dia SP ainda era apresentado pelo Carlos Nascimento e eu andava muito deprimida com uma onda de péssimas notícias. Pra variar, muitos crimes, a prefeitura tomada por corrupção – era a época do Pitta, pós Maluf... Enfim, um desencanto geral. E como eu gostava muito de plantas desde a adolescência (aprendia muito com a família), sugeri à editora chefe, a Márcia Correa, que faz o Bom Dia SP até hoje, que fizéssemos pelo menos uma vez por semana um ao vivo ou uma pequena reportagem sobre natureza e plantas na cidade. E este é um assunto que os paulistanos amam em especial, assim como os outros paulistas. A princípio me deram um pequeno espaço sem dia certo, mas a audiência foi respondendo a tal ponto que se criou um dia (a sexta-feira), um quadro com nome (Quadro Verde), com um tempo generoso (de 3 a 5 minutos hoje em dia) e essa relação com o telespectador é feliz até hoje.
O.A. Qual é o retorno do público em relação às matérias do Quadro Verde?
Ananda Apple: Ela não surgiu. Eu surgi com ela... Foi em 1998, o Bom Dia SP ainda era apresentado pelo Carlos Nascimento e eu andava muito deprimida com uma onda de péssimas notícias. Pra variar, muitos crimes, a prefeitura tomada por corrupção – era a época do Pitta, pós Maluf... Enfim, um desencanto geral. E como eu gostava muito de plantas desde a adolescência (aprendia muito com a família), sugeri à editora chefe, a Márcia Correa, que faz o Bom Dia SP até hoje, que fizéssemos pelo menos uma vez por semana um ao vivo ou uma pequena reportagem sobre natureza e plantas na cidade. E este é um assunto que os paulistanos amam em especial, assim como os outros paulistas. A princípio me deram um pequeno espaço sem dia certo, mas a audiência foi respondendo a tal ponto que se criou um dia (a sexta-feira), um quadro com nome (Quadro Verde), com um tempo generoso (de 3 a 5 minutos hoje em dia) e essa relação com o telespectador é feliz até hoje.
O.A. Qual é o retorno do público em relação às matérias do Quadro Verde?
Ananda Apple: É imenso. A gente vê pelos telefonemas ao CAT (Central de Atendimento ao Telespectador), pelos e-mails, pela internet e, sempre, historicamente, pelo retorno ao vivo nas ruas – a quantidade de gente que vem falar comigo é imensa. Ao contrário do que se pode pensar numa visão pequena e preconceituosa, de que só donas de casa gostariam muito deste assunto, o retorno vem de médicos, professores, especialistas na área como produtores e paisagistas. Mas me chama a atenção como tenho retorno da área policial, que não costumo cobrir. Parece que este pessoal de profissões muito estressantes gosta muito do quadro, talvez para desestressar. E grande parte do público, cansada do noticiário pesado do dia a dia, me diz muito que assiste em especial esta parte do jornal, pra começar o fim de semana mais aliviado.
O.A. Quais são as suas principais fontes para obter as informações que
enriquecem suas matérias?
Ananda Apple: Antes eu procurava muito os especialistas. Agora
eles vem até a gente para oferecer pautas, os assessores divulgam suas feiras
e os profissionais da área sempre me contam das novidades. Mas também observo
o que está florescendo na cidade, ou morrendo, ou faltando, observo o quanto
as pessoas sabem muito pouco sobre plantas, embora adorem tê-las em casa. Por
exemplo, já fiz umas 50 ou 60 matérias sobre orquídeas nestes quase 15 anos e
mesmo assim a maior parte do público continua sem saber o básico, então sempre
tenho que fazer de novo. Mas também dá muito prazer em ver como as pessoas
aprendem, acertam e me dizem o que melhorou em seus jardins, depois que
assistiram determinada matéria.
O.A. Que espécies de plantas podemos encontrar em sua casa? Como é feito o
cultivo?
Ananda Apple: Foi só nos anos 90 que passei a ter varanda em casa.
Antes eu só tinha parapeito! Aí eu passei a ter muuuuuitas plantas. De tudo.
Mas depois que tive minhas gêmeas, tive que tirar muitos vasos que tinha no
chão por segurança (pra elas não comerem, mesmo assim comeram!) e diminuí
bastante a quantidade porque não teria tempo para todas. As meninas me
absorveram demais por muitos anos. Agora já tenho mais orquídeas do que o
espaço comporta, mas vou dar uma geral de novo. O que mais tenho são orquídeas
e bromélias, porque elas se auto-renovam, não precisa ficar comprando, é só
cuidar. Gosto de ter história com as plantas e não de comprar, ver florir e
jogar fora. Me dá muita felicidade ver que plantas de anos atrás continuam
florescendo a cada ano, no seu tempo.
O.A. Que conselhos daria para as pessoas interessadas em cultivar plantas
em apartamento?
Ananda Apple: Uma coisa é comprar um vaso de flor que abre e
depois morre e não vai dar mais. Isso eu também faço, compro muito aquelas
kalanchoes e kalandivas baratinhas, que duram uns 20 dias, pra mesa da
cozinha, pra cesta da sala, pro banheiro. Outra coisa é CULTIVAR – plantar,
cuidar, manter durante um longo tempo. Em primeiro lugar eu digo que planta é
que nem filho e cachorro – tem que dedicar tempo. Em geral as pessoas me
perguntam – que planta eu posso colocar na mesa da sala, ter flor o ano
inteiro, sem precisar de muita luz e muita água? Eu digo – de plástico.
Então é isso – veja onde tem mais luz, se você vai mesmo regar o necessário –
cada planta tem seu regime de rega e luz e em geral as pessoas alternam seca
nordestina com enchente paulistana e isso estressa demais a planta.
Compre o que funciona – não adianta querer ter florzinha na varanda que o vento levou. Ou num ambiente com pouca luz. Não invente – pergunte pra quem sabe, pro produtor, pesquise. As pessoas às vezes querem economizar e fazer tudo conforme o próprio gosto, sem ter informação. Não é qualquer planta que funciona em qualquer lugar. Às vezes é mais barato pagar um paisagista do que fazer por conta, errar e perder tudo.
O.A. Fale-nos um pouco sobre as orquídeas que foram batizadas em sua
homenagem, com o seu nome e os de suas filhas. Como isso aconteceu?
Ananda Apple: A primeira orquídea com meu nome foi uma
Brassolaeliocattleya muito linda, acho que em 1999 ou 2000, do Luis,
que participa das exposições da AOSP. A segunda vez foi o Sr. Nagase, também
participante da AOSP, que pesquisou e cruzou as Miltonias andinas durante dez
anos, até chegar a um resultado que se adaptasse ao nosso calor e com grande
quantidade de flores. E como corria entre os amigos orquidófilos uma cena lá
de casa (quando minha filha Liz comeu umas Miltonias aos 7 meses, e eu
fotografei o quanto ela ficou de boca cheia e feliz), havia aquela relação.
Foi uma homenagem maravilhosa do Sr. Nagase. Ele veio todo humilde me
perguntar se poderia dar o nome das minhas filhas às orquídeas que ele tinha
desenvolvido – um trabalho imenso de polinizar com pincelzinho de uma pra
outra e esperar anos até ver se o resultado era viável e produtivo. Claro que
eu fiquei muito honrada. E assim ele batizou a Miltonia Ceo Apple, Liz Apple e
Ananda Apple, que hoje já são cruzadas entre elas mesmas e são a realização
deste desejo de ter “o amor perfeito” das orquídeas no Brasil. É que elas
lembram o desenho do amor-perfeito.
O.A. Confesso que eu não imaginava que receberia respostas tão detalhadas e
ricas em informações, vindas de uma profissional tão importante e ocupada.
Desde o primeiro contato, Ananda Apple foi extremamente solícita e
prontamente aceitou meu convite. À Ananda Apple, meu muito obrigado por esta
fascinante entrevista!
Nesta segunda parte da entrevista, Ananda conta um pouco sobre sua rotina nos bastidores, como se prepara para os programas e reportagens que apresenta, bem como sua relação com moda e consumo.
Nesta segunda parte da entrevista, Ananda conta um pouco sobre sua rotina nos bastidores, como se prepara para os programas e reportagens que apresenta, bem como sua relação com moda e consumo.
Convidei mais uma vez a jornalista Ananda Apple para dar uma entrevista, desta
vez sobre assuntos relacionados à beleza, moda e consumismo. Eu esperava
conhecer algumas dicas de beleza, detalhes de preparação nos bastidores,
coisas do tipo. Mas o que recebi foram diversas aulas sobre jornalismo
televisivo, minimalismo, sustentabilidade, simplicidade voluntária e
solidariedade. Além, é claro, de valiosas informações sobre moda e maquiagem
para se apresentar diante das câmeras.
São ensinamentos vindos de uma profissional extremamente competente e
generosa, há 18 anos no comando do Quadro Verde, exibido semanalmente no Bom
Dia São Paulo, da Rede Globo, também colunista da
Revista Casa e Jardim, e sempre produzindo diversas outras reportagens para a televisão.
O.A. Como se dá a sua preparação, em termos de maquiagem e figurino,
para a apresentação das suas matérias?
Ananda Apple: Repórteres trabalham na rua e não têm as facilidades
das apresentadoras - que são preparadas por ótimos profissionais no camarim. A
gente chega, pega a pauta e tem que sair correndo. Ou chega pronta ou faz com
o carro andando.
E tem que parecer razoável no calor de 38 graus e na chuva. Acho que isso é o
mais difícil. Suo demais e o cabelo de qualquer mulher se detona na
umidade.
O.A. Existe algum segredo para estar tão bonita e descansada, ao vivo, tão
cedo de manhã?
Ananda Apple: Eu me maquio em casa, em torno de 4h30 da manhã, um
pouco antes de entrar na televisão, às 5h. Portanto, uso base só nas laterais
para disfarçar manchas da gravidez e pó. Depois, o risco no olho (que erro
sempre) e uma sombra para dar profundidade. Não enxergo mais direito, uso
lente. Um olho enxerga perto e outro longe. Então, um dos olhos sai sempre
torto...
Mas minha pele engana bem para a idade que eu tenho. A dermato disse para eu
agradecer pela pele oleosa na zona T. Então, apesar de não usar quase nunca
hidratante ou filtro solar (no dia a dia), porque sempre melecam ou brilham,
apesar de as propagandas prometerem o tal efeito matte, minha pele
parece ainda razoável. Evito o rímel porque no verão sempre escorre.
Não tenho muitas roupas e meu estilo é mega básico. Nos últimos anos, trabalho
quase sempre de jeans que, em geral, uso uma semana inteira por convicção,
para evitar desperdício de água. Só deixo arejando.
A parte de cima são blusinhas de uma só cor e leves. Porque morro de calor.
Sou a repórter anti-blazer. Sobreposições acho bonito mas só para as muito
magras e friorentas. Só uso casacos quando está abaixo de 21 graus.
Camisas amassam demais para quem precisa entrar e sair do carro de reportagem
muitas vezes. E o cinto de segurança amassa ainda mais. Fica feio no ar.
A gente tem que tomar cuidado com excessos que tiram a atenção do
telespectador ou tecidos que 'vibram' na tv, como xadrezes, bolinhas e
listados. Não pode usar estampas, rendas, transparências, ombro de fora,
brincões. Temos que estar neutras mas bem compostas. Que se possa entrevistar
uma autoridade com adequação e ao mesmo tempo se possa entrar no barraco sem
parecer madame ou constranger. Saltinhos e saias não dá, porque talvez seja
necessário correr ou pular algum obstáculo, por exemplo, nunca se sabe o que
pode acontecer na rua.
O.A. Que itens de beleza a acompanham durante a realização de suas
reportagens?
Ananda Apple: Na minha bolsa só levo o básico - pó compacto que
repasso muitas vezes e batom cor de boca. Tem vezes que queria ter um secador
para ajeitar o cabelo nos dias quentes. O calor é o que mais me atrapalha.
Mais indispensáveis que os itens de beleza, para mim, são caneta, celular,
minha prancheta e remédio pra enxaqueca.
O.A. Há uma preocupação com a aparência e o passar dos anos? Há alguma
cobrança devido à sua profissão?
Ananda Apple: A idade mudou o tamanho da minha caixinha de
maquiagem. Nos anos 80, eu saía de cara lavada e usava na rua só
blush e batom. O blush durou uns 10 anos! Hoje levo quase 15
minutos me maquiando em casa, até porque não retoco na rua. E aí surge a
necessidade de disfarçar o que está pior, dando mais vida aos olhos. Assim que
chego em casa, tiro tudo. Me sinto leve.
E quando não estou trabalhando, só uso um lápis de olho, um pouco de pó e
batom. Parece libertador.
Você diz que pareço descansada de manhã cedo. Mas durmo muito pouco - até tudo
acalmar em casa, as tarefas, as filhas e eu relaxar um pouquinho vendo uma
série boa, leva tempo. Acabo dormindo em média 4 horas. Não fico com cara de
sono e amassada por um milagre ou porque talvez meu ritmo seja matutino.
Prefiro sempre trabalhar pela manhã e ter a tarde livre. Mas muitas vezes o
preço é a enxaqueca.
Talvez a boa impressão venha de uma felicidade pelo simples. Me basta estar em
paz, as meninas com saúde, a casa em silêncio, limpinha, um bom filme,
escurinho e frio. Ou uma música no fone de ouvido na hora de dormir. Isso já
me faz feliz.
A cobrança da tv sobre a aparência não é explícita, e sim implícita na minha
função. Eles sabem que após 30 anos de exposição na tela tenho total domínio
do que é adequado visualmente. Não posso estar desleixada, mal vestida, com
unhas roídas ou vermelhonas, com sutiã aparecendo, perna de fora, calça
apertada. O adequado é o simples, elegante e que não interfira na reportagem.
Não estou ali para ser uma estrela, mas um veículo para a reportagem. Talvez
tenha mais a ver com postura. Algo que, se não a vocação, a maturidade te
traz. E esta medida a gente conhece com o tempo.
Mas a gente tem que parecer visualmente agradável ao telespectador, o que
também é um recurso para captar a atenção. Câmeras são cada vez mais
implacáveis e hoje mostram o fundo dos poros. Veem o que o olho humano não vê.
Comedimento e truques de maquiagem são tudo. Na tela em HD, vejo que as rugas
são mais marcadas do que enxergo no meu espelho de madrugada. Então todo ano
vou na minha dermato e pago uns lasers pra disfarçar manchas, produzir mais
colágeno, estas coisas que a propaganda promete. Ou eles funcionam de alguma
forma ou sou uma crédula cheia de fé na tecnologia!
O.A. Qual é a sua postura, em relação às suas filhas, quanto ao consumismo,
às vezes estimulado pelos gurus de moda e beleza, principalmente das redes
sociais?
Ananda Apple: Minhas filhas e consumismo? Talvez este seja um dos
maiores legados que quero deixar para elas, além de princípios e educação.
Você já viu que não sou nada consumista, sou rotineira e rainha do pouco.
Tenho só uma bolsa, repito milhões de vezes as mesmas roupas, uso sapatos até
o sapateiro não dar mais conta. Entrei há anos na fase de dar, de me desfazer
das coisas. Quanto menos melhor. Quanto mais espaços vazios, mais
liberdade.
Penso mil vezes se preciso mesmo de algo e ensino as duas a refletirem sobre
isso. É desejo, necessidade, modismo? Vai usar muito ou pouco? Justifica o
preço? Não é por sovinice. Mas porque não dá mais para a Terra produzir tanto,
a gente usar tão pouco, acumular tanto. Odeio o usa e joga fora.
Minhas filhas têm 14 anos, gostam de ver tutoriais de maquiagem na internet
como toda adolescente. Têm suas maquiagens, que mais ganharam de outras
pessoas do que de mim. Eu dou o básico - higiene pessoal, algum corretivo. As
roupas necessárias e algum desejo especial, como uma blusinha diferente. Elas
não são pidonas. E se algo estraga, elas me dão e eu arrumo ou costuro, não
jogo fora. Se elas ganham 8 roupas de aniversário das amigas, sempre instigo a
darem o mesmo tanto. A gente ajuda meninas numa comunidade perto de casa que
desde pequenas quase que só usam o que era das minhas filhas.
Acho o consumismo uma tragédia do nosso tempo. Prefiro sempre ter pouco e de
boa qualidade e acho sábio e elegante usar as coisas, se possível, a vida
inteira.
O.A. Confesso que fiquei emocionado ao ler as respostas da Ananda Apple às
perguntas aqui formuladas. Eu já sabia de seus gestos de generosidade, mas
foi surpreendente ler suas opiniões a respeito de consumo, meio ambiente e
vaidade, entre outros temas. São posições com as quais compactuo, hábitos
que admiro e conceitos que estão bastante arraigados na nossa família. Meus
irmãos, também blogueiros, escrevem bastante sobre estes temas, sobre doar,
ter menos e viver mais. Adorei a entrevista e só posso deixar meu muitíssimo
obrigado à Ananda Apple pelo carinho e atenção, mais uma vez!